As palavras da bióloga e doutora em Ecologia Alba Evangelista Ramos mostram como o envolvimento de cada instituição foi essencial para a construção do projeto Produtor de Água do Pipiripau, há dez anos.

Alba Evangelista e Gilberto Cotta na época da estruturação do projeto Reflorestar. Foto: Arquivo pessoal Alba
Atualmente aposentada pela Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF), Alba Evangelista Ramos atuou no início do projeto Produtor de Água do Pipiripau articulando pela Secretaria de Agricultura. Ela elaborou e implementou o Programa Reflorestar na Secretaria de Agricultura, por volta dos anos de 2008 e 2011, e foi esse trabalho que possibilitou à Seagri assumir área de produção de mudas no projeto Produtor de Água do Pipiripau, à época, junto com a questão da mecanização.
Mas, para a servidora aposentada da Secretaria de Agricultura, a história com o Ribeirão Pipiripau começou muito antes. Em 2005, pouco depois de voltar para a Seagri após estar cedida para a Fundação Jardim Botânico, Alba participou de uma reunião do Conselho de Meio Ambiente do Distrito Federal (Conam) que tratava sobre criar mais uma área habitacional que utilizaria a bacia do Ribeirão Pipiripau para o abastecimento humano. Na ocasião, sabendo que ali já era uma área de conflitos, Alba foi contra, porém seus esforços não foram suficientes para mudar aquela situação.
“Porque nessa época a gente já escutava a história do Pipiripau e da falta de água na região”, conta Alba. Segundo ela, bem antes do projeto Produtor de Água no Pipiripau ter início, já havia o conflito por água na região, a bacia se tornava cada vez mais pressionada pelo aumento dos múltiplos usos, e também já existia a atuação de várias instituições isoladamente, mas não tinha um resultado real para as questões da região.

Alba Evangelista Foto: Divulgação
Assim, após a reestruturação do Núcleo de Reabilitação Ambiental da Secretaria de Agricultura, onde nasceu o projeto Reflorestar da Seagri, Alba e sua equipe elaboraram diversos projetos para pleitearem recursos para a produção de mudas. “Na época, a proposta era oferecer várias tecnologias ao produtor rural para adequar a propriedade ambientalmente, além do reflorestamento”, conta Alba. Segundo ela, o projeto estava pronto, mas a Granja do Ipê estava desfalcada e produzindo poucas mudas. Eles precisavam de investimento.
Nesse ponto, Alba relata que já havia uma articulação para a criação do projeto Produtor de Água do Pipiripau. “Foi uma conjunção de fatores e uma oportunidade bem aproveitada”, afirma a representante da Seagri.
A Agência Nacional de Águas estava em busca de uma vitrine tecnológica de Pagamento por Serviços Ambientais no Distrito Federal. “Devanir teve um papel fundamental nisso, porque a gente marcou uma visita técnica da ANA [Agência Nacional de Águas] na Secretaria e eles visitaram o parque de máquinas e a Granja do Ipê e, foi aí que, o Devanir já saiu convencido que a Seagri poderia entrar com a parte de mecanização e com a produção de mudas”, conta a representante da Seagri.
Para ela, a chegada do novo secretário de Agricultura, em 2011, Lúcio Valadão, deu um novo gás às articulações em prol do projeto. “Ele entrou muito pilhado, dizendo que a gente tinha que fazer o Produtor de Água acontecer”, relembra. Segundo ela, o grupo já tinha uma ideia de como cada instituição poderia contribuir com o projeto em sua parceria, e a grande busca era por recursos financeiros, tanto para o Pagamento por Serviço Ambiental, como para as demais ações do projeto.
“Mas a dificuldade da gente implantar o projeto foi danada, onde diziam que tinha dinheiro, a gente ia lá, então fomos a várias reuniões no Ministério da Integração, na Sudeco [Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste], buscamos a Caesb [Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal] para financiar o PSA”, relata.
Alba acredita que essa construção da Unidade de Gestão do Projeto foi uma das coisas mais difíceis nesse contexto. “Conciliar os interesses e as responsabilidades dos parceiros leva tempo e saliva”, destaca. Ela relembra também que o então diretor da ANA fez uma proposta para o Serviço Social da Indústria (SESI) investir no projeto, a título de que a indústria reduzisse seus passivos ambientais financiando o Produtor de Água. “Foi uma conversa difícil, mas conseguimos que o Sesi entrasse com recursos para investir na Granja do Ipê, entre outras iniciativas dentro do projeto”, relata Alba.
Após a assinatura do primeiro Acordo de Cooperação Técnica do projeto Produtor de Água do Pipiripau, no final de 2011, a Secretaria de Agricultura de fato assumiu a coordenação do grupo de trabalho de Reflorestamento (GT2), onde Alba foi a representante da secretaria por um tempo. “Foi muito bom, as vezes que eu voltei no Pipiripau depois disso, ver aquela floresta formada depois 4 ou 5 anos, é muito bacana ver o resultado desse trabalho”, afirma.
Ganhos com o projeto
“Um ganho foi reinserir a questão ambiental dentro de um órgão de governo que faz política pro campo, que foi quando eu criei o projeto reflorestar na secretaria”, relembra. Mas no âmbito do ganho pessoal, ela destaca a versatilidade que o serviço público exige do profissional. “Minha área de especialização é outra, mas eles ligavam meio ambiente à Alba”, se diverte.
E apesar de ter saído da representação do projeto pela Seagri, Alba nunca se afastou totalmente. Em 2017, o então Superintendente de Planejamento e Programas Especiais da Adasa, José Bento da Rocha, a convidou para organizar um livro registrando a construção do projeto Produtor de Água na bacia do Ribeirão Pipiripau. Na época, Alba era assessora da Superintendência de Recursos Hídricos da Adasa e, com a parceria de Jorge Werneck, que já estava como diretor da Adasa, ela organizou a publicação.
Segundo ela, o grupo do projeto começou a pensar na elaboração do livro ainda em 2015, mas só em 2017 ela recebeu o convite formal para organizar a publicação. “Editar livro não é fácil, porque muitas vezes os textos não chegam como o editor está planejando, porque quem escreve um capítulo não tem a visão do todo e o editor precisa enxergar o todo e dar forma a tudo isso”, conta. O livro “A experiência do projeto Produtor de Água na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Pipiripau” foi lançado durante o Fórum Mundial da Água, em março de 2018.

Alba entre os parceiros do projeto em ação no campo. Foto: Arquivo pessoal Alba
Alba também destaca que uma de suas grades alegrias foi ver a inauguração da revitalização do Canal Santos Dumont. “Foi uma das entregas mais importantes do projeto, porque desde o início a gente sabia que, se tubulasse o canal, isso já resolveria uma parte muito grande do estresse hídrico que a bacia sofria”. A reforma do canal foi entregue em setembro de 2020.
“Eu fui na inauguração do Canal e eu fiquei muito feliz de ter participado disso, porque foi uma luta de muitos anos; pra mim, pessoalmente, foi desde 2005, quando eu comecei a me inteirar dessas questões e acompanhar”, afirma. E para o futuro, Alba destaca mais uma vez a importância do envolvimento de todos os parceiros:
“Eu acho que é hora das instituições se envolverem ainda mais e continuarem empenhadas para o crescimento do projeto, porque os grandes ganhadores somos nós, a sociedade”, afirma. “E é um projeto maravilhoso, premiado, e a gente não pode abrir mão de continuar incentivando essa beleza de projeto”, destaca com entusiasmo.